quinta-feira, 17 de julho de 2008

A floresta – um património esquecido.


Os incêndios passaram a ser desde há algum tempo o tema horrendo das aberturas dos telejornais. As câmaras filmaram aspectos dantescos das chamas a devorarem a floresta portuguesa, habitações, indústrias e a causar vítimas humanas.
Mais uma vez o povo português se sensibilizou, lamentou a perda de bens e de vidas humanas; gerou-se uma onda de solidariedade, as televisões iniciaram programas onde entrevistaram intervenientes nos incêndios procurando arrancar-lhes palavras de indignação, revolta, pesar.
Mais uma vez os políticos da oposição apareceram a mostrar a sua ainda contida indignação pelo acontecido, deixando para daqui a mais alguns dias um desancar verbal no Governo e no Ministro da Administração Interna.
Mais uma vez os governantes argumentaram com a excessiva vaga de calor que vai na Europa e louvaram o empenho de todos já que sem esse empenho poderia ter sido bem pior. E mais e mais…
O que é certo é que a floresta ardeu, que vidas humanas se perderam, que casas e empresas ruíram. E porquê?
Claro que há o facto de a floresta portuguesa ser desde há muitas décadas mal gerida, de se insistir na plantação de árvores resinosas em detrimento das folhosas, de se plantar eucaliptos a esmo e de se enfraquecer o sub-coberto, de se não fazerem aceiros dimensionados, da falta de meios dos bombeiros ( significativo foi o facto de termos de recorrer a aviões marroquinos para combater os fogos ), da falta de coordenação entre as diversas entidades – Ministério da Administração Interna, Protecção Civil, Parques Naturais - , claro que há tudo isto e muito mais que por certo irá ser debatido na Assembleia da República entre discursos inflamados e acusações partidárias.
Mas o que os portugueses pretendem é que desses debates resulte de facto uma posição que realce a floresta como PATRIMÓNIO AMBIENTAL do nosso tão bonito país.
O papa João Paulo II, numa sua homilia na praça de S. Pedro em Roma, lamentando a sorte da floresta portuguesa e das vítimas portuguesas, falou da floresta como património ambiental que é necessário proteger. Por esta visão das coisas se nota o espírito actual e actuante deste papa que nos tem surpreendido a todos positivamente com o modo sábio como tem orientado a Igreja e pelo modo ponderado mas interventivo como tem enfrentado os problemas actuais.
De facto, falta na nossa sociedade uma consciência ambiental e, no que concerne à floresta, a consciência de que é um património que temos de salvaguardar e valorizar.
Infelizmente, muita da sociedade portuguesa entende os incêndios como uma inevitalibidade e conformam-se com a situação. Não é raro ouvir-se dizer “ deixa arder a ver se o fogo limpa o mato dos caminhos, que nem por lá se pode passar”.
Enquanto a base social da sociedade portuguesa pensar assim não teremos por certo um país verdejante e apto a receber turistas amantes da natureza, com as enormes perdas financeiras que tal acarreta.
Antes de todo e qualquer debate, antes do assacar de culpas a uns e a outros, crie-se na consciência de cada um esta ideia: a floresta portuguesa é um PATRIMÓNIO que urge manter e preservar.

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