segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Gestão Integrada do Montemuro

O Programa Operacional Regional do Norte, tudo o indica, vai financiar a elaboração de um Plano de Gestão Integrada do Sítio Montemuro. Candidatou-se ao mesmo a Associação de Municípios do Vale do Douro Sul em que estão representados os concelhos de Cinfães, Lamego, Resende e Castro Daire.
Em causa está um espaço protegido ( é Rede Natura 2000 ) e classificado onde se coloca o desafio de conciliar práticas de conservação com práticas de desenvolvimento de actividades agrícolas, silvo pastorícia, turismo e recreio.
O objectivo final será o estímulo à economia local.
Note-se que ainda teimam em viver nas serranias montemuranas cerca de 13 mil pessoas dispersas por aqueles concelhos.
Cinfães tem 57% do seu território abrangido pelo Sítio.
Em conjunto com as serras da Freita e Arada, este sítio constitui a área mais importante para a conservação da subpopulação de lobo.
Quanto a nós, o projecto pode servir para atenuar os efeitos da desertificação - favorecida pelos factores físicos da Serra de Montemuro que conduzem ao isolamento pa população -, para promover a qualificação de recursos humanos e diversificar a estrutura económica da região.
E se o que se pretende é a atractividade turistíca, então muito há a fazer.
Além do respeito pelos valores faunísticos e paisagísticos, importa a dignificação dos valores culturais, artesanais e patrimoniais ( veja-se neste último caso a situação degradante a que está votado o Castro do Monte das Coroas, em Cinfães, ou o troço muralhado das Portas de Montemuro ( Cinfães/Castro Daire ).
É pena que esta gestão de uso múltiplo da serra não tenha chegado há uns anos atrás. De facto, há muito que se impõe uma gestão integrada da serra.
Mas também uma gestão de mentalidades e de sensibilidades. Aqui, com mágoa o dizemos, permitimo-nos ser mais péssimistas. Mas vale sempre a pena acreditar.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Em Defesa do Montemuro

O mais bem intencionado viajante que percorra as cercanias do Montemuro não pode deixar de reflectir sobre os abusos que pela serra se vão cometendo. São violações que revelam um défice cultural e ambiental que nos envergonha.
Os exemplos são, infelizmente, muitos e vão desde os reflectores das bermas da estrada EN 321 que são arrancados e colocados a delimitar logradouros das casas privadas que confinam com a via pública, em desrespeito pela segurança de todos; as placas de sinalização danificadas a tiro; os palheiros que, no mais recôndito lugar mas à vista pública, são cobertos de chapa que reflecte a luz solar causando um efeito estético agressivo; as bermas das estradas pejadas de lixo variado e restos de materiais de construção civil, quando não são usadas para depósito de madeiras e pedras em benefício de particulares; os espaços em redor dos sítios festivos onde pululam plásticos e outras excrescências festivas.
A tudo isto acresce o uso irracional e depradador da serra pelos veículos 4x4 por zonas não cotiadas.
Eis aqui plasmado, em alguns exemplos não exaustivos, o desrespeito pela serra de todos nós.
Eis também evidenciada a falta de cultura cívica e o desprezo pelo património colectivo.
Com o Professor Vital Moreira, diremos: "O modo como os cidadãos cuidam, ou não, do património comum e dos bens públicos constitui um dos mais notórios padrões de cidadania e de modernização de um país. Por um lado, não existe cidadania integral sem educação cívica nem responsabilidade social...A defesa dos bens públicos exige o combate aos abusos privados ".
Que todos nós combatamos em defesa do bem público. Que quem com responsabilidade decisória autárquica o faça também. Não é só a serra que deixa de ser apreciada por causa destes desmandos, a conduta de quem tem deveres nesta matéria também é avaliada, nem que seja por uma minoria.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Lobo-Ibérico no Montemuro

Existem actualmente cerca de 2000 lobos em liberdade na Península Ibérica, sendo que 300 se movimentam nas serras portuguesas.
Entre o Montemuro e a serra da Arada vagueiam três alcateias. Em Cinfães existe um grupo instável em que não foi detectada reprodução.
Pelo Grupo Lobo está a ser desenvolvido um Plano de Monitorização do Lobo nas serras da Arada, Freita, Montemuro e Leomil.
Com o patrocínio da Eólica da Cabreira, SA, da EDF e devido à persistência e empenho do Sr. Eng. Carlos Pimenta constituiu-se a Associação para a Conservação do Habitat do Lobo-Ibérico nas Serras da Arada, Freita e Montemuro.
O habitat do lobo tem vindo a ser ameaçado pela fragmentação de que tem sido alvo ( construção de estradas e de IC'S ), pela falta de presas silvestres e domésticas e pela crescente eucaliptização dos montes.
A construção de parques eólicos perturbou também o meio natural onde o lobo se movimenta. Mas, paradoxalmente, são a empresas investidoras ( Eólica da Cabreira, SA e EDF ) quem está a promover a protecção e preservação do lobo. A inovação, que poderia representar a maior ameaça, parece ser a salvação deste animal lendário.
Mas o maior perigo persiste: o Homem, esse, que, desde tempos imemoriais, sempre o perseguiu, envenenou, armadilhou e matou.
A sensibilidade, porém, está mudar e o respeito pelo Lobo, pela sua aura de liberdade e indómita ânsia de viver, incute-se cada vez mais nas populações serranas. Vamos proteger o Lobo, vamos zelar pelo seu habitat.
Aqui deixamos algumas curiosidades acerca do Lobo-Ibérico. Oxalá despertem mais interesse e mais vontade na sua preservação. Preservá-lo é salvaguardar um património imaterial bem arreigado na cultura montemurana.

O lobo é da família do cão e é o maior dos canídeos. Mede cerca de 70 cm e pesa entre 25 e 40 kg. Estes animais conseguem detectar uma presa a 2,5 km de distância. Os lobos reconhecem o uivar dos seus filhos até seis quilómetros.
O lobo-ibérico é carnívoro e as principais presas são javalis, veados, corços. Quando não encontram comida, atacam os rebanhos. Mas, lembremos, só ataca porque tem fome.
Normalmente, os lobos têm muito medo do homem e evitam-no sempre que podem. Também gostam de comer vegetais: erva, amoras e figos.
Onde o lobo gosta de viver é na mata e no seio de matagais. Percorre os dorsos serranos em busca de comida, chegando a andar 40 km numa só noite.
Faz a sua toca nas raízes das árvores, debaixo das rochas ou em grutas.
O lobo-ibérico é uma espécie em vias de extinção e é protegida por lei.
A Associação para a Defesa do Vale do bestança, em parceria com a Associação para a Conservação do Habitat do Lobo-Ibérico nas Serras da Arada, Freita e Montemuro vai realizar dentro em breve uma conferência/debate sobre o lobo-ibérico, na Casa da Cultura, em Cinfães. Daremos nota disso mais adiante.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Montemuro - a nossa serra








Após a publicação de três textos alusivos à vivência montemurana, ao seu património etnográfico e à sua riqueza natural importa agora dizer um pouco sobre o propósito deste blogue.
Pretendo que o mesmo seja um meio de divulgação da serra de Montemuro nas suas valências patrimoniais, ambientais e humanas. A participação cívica de todos os que gostam da serra é também reclamada.
O Montemuro passa por uma fase de mudança, talvez a maior alteração desde a memória dos tempos.
Que essa metamorfose não devaste o património imaterial, físico e ambiental. E que as gentes montemuranas não sejam esquecidas.
Afinal,ainda vivem o dia-a-dia na serra de Montemuro cerca de catorze mil habitantes dispersos pelos concelhos de Cinfães, Castro Daire, Arouca e Resende.
Urge fixá-los, urge travar a desertificação.
Há que criar-lhes condições de vida e bem-estar. E isso passa pela valorização da serra. E como seria importante a criação de uma autêntica marca: a marca "Montemuro" que distinguiria os produtos e serviços que aqui se pudessem produzir ou prestar.
É por tudo isto que pugnamos. Oxalá o blogue possa servir esse desiderato.

terça-feira, 22 de julho de 2008

ABRIGOS DE PASTOR NO MONTEMURO




Estas singelas construções aparecem-nos, amiúde, nas vertentes da serra de Montemuro, bem como no vale do Bestança.
Os abrigos construídos pelos pastores assumem uma morfologia quadrada ou sob o redondo, sendo muitos escavados em saibro mole com tecto abobadado.
Erguem-se paredes de pedra aparelhada, sem qualquer argamassa a unir as juntas, sendo a cobertura de colmo ou, então, de pesadas lajes graníticas. Sobre o colmo assentam-se algumas pedras no beiral de modo a que a palha não levante com o vento. A entrada é desguarnecida de porta, o tecto é baixo e não tem qualquer abertura lateral. O chão é térreo e a um canto surge o trasfogueiro onde o pastor, tantas vezes enregelado e paciente, acende a fogueira à espera que o mau tempo amaine.
A única luz que do exterior entra no abrigo provém de entrada ampla e sem porta.
Na serra, acima de Marcelim, no Perneval ou no Talegre, os abrigos encontram-se nas formações rochosas naturais a que os pastores dão o nome de “ lapas “.
Aqui acolhem-se os guardiães da serra procurando refúgio dos rigores inverneiros – ventania, chuva ou trovoada – debaixo de uma mole rochosa por vezes também com a configuração de gruta ( a da Fraga da Moura, a montante de Marcelim, v.g. ).
De qualquer forma, sejam construções humanas ou formações naturais aproveitadas, os espaços são sempre acanhados e toscos.
Nos abrigos roubados ao saibro encontra-se no interior um banco cavado na parede onde o pastor descansa olhando, resignado, a inclemência do dia.
Nos Covais, em Tendais, vimos abrigos de pastor próximos a campos de cultivo e lameiros, sinal de que, enquanto o gado pasta, o pastor vai-se dedicando ao amanho da terra abrigando-se quando o mau tempo assim o obriga.
Na Grijinha, também em Tendais, existe um abrigo de pastor na borda do caminho que de Macieira conduzia a Aveloso.
Marcos da arquitectura tradicional estes abrigos merecem de todos a atenção devida para que se mantenham in situ e não sejam desvirtuados pela utilização de materiais menos consentâneos, como a folha-de-flandres, v.g. na cobertura.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Bestança – Rio Montemurano


Cinfães é um concelho do Distrito de Viseu, constituindo um dos seus 24 municípios. Situa-se na região do Douro Sul, integrando a sub-região do Tâmega ( NUTIII)
É delimitado a Norte pelos concelhos de Baião e Marco de Canaveses; a Sul pelo concelho de Castro Daire; a Leste pelo de Resende; a Oeste pelo concelho de Castelo de Paiva.
O concelho de Cinfães tem uma área de 241,5 Km2, situada entre os rios Douro ( a Norte ), Paiva ( a Poente ) e o ribeiro de Cabrum ( a Nascente ). Esta área está dispersa por dezassete freguesias.
A população residente é de 21 824 habitantes, tendo-se notado um decréscimo da população, sendo que desde 1950 a 2002 Cinfães perdeu cerca de 9 663 indivíduos.
A forte emigração, ditada pelo facto de o concelho não oferecer empregabilidade, contribui para o esvaziamento demográfico a que temos assistido, restando uma faixa etária envelhecida.
Contudo, as potencialidades turísticas de Cinfães arrimadas na paisagem salvaguardada, no rico património edificado ao nível da arquitectura tradicional e popular; na boa gastronomia e na hospitalidade das suas gentes, podem contribuir para a inversão desta situação e, quando bem aproveitadas, levarem à criação de riqueza sustentada e fixarem a população activa.
Um dos pontos turísticos mais genuínos e mais ricos do concelho é o Vale do Bestança, de que fazemos ora uma breve caracterização nas suas vertentes patrimoniais, naturais e humanas.

Caracterização do Rio Bestança:


Nascente: Na Serra de Montemuro, junto às Portas de Montemuro, a uma altitude de 1229 m;

Foz: Souto do Rio, a uma altitude de 110 m

Extensão: 13,5 KM

Direcção: Nascente/Foz: SSE/NNV

Principais afluentes: margem esquerda: ribeiro de Barrondes, ribeiro de Enxidrô.
Margem direita: Ribeiro de Alhões, ribeiros de Soutelo e Chã.

A bacia hidrográfica do rio Bestança está representada na Carta Militar de Portugal, escala 1: 25.000, folhas 136 e 146 dos Serviços Cartográficos do Exército, bem como na Carta Geológica de Portugal, escala 1:50.000, folha 14-A, dos Serviços Geológicos de Portugal. Abrange as freguesias de Alhões, Tendais, Bustelo, Ferreiros, Cinfães e Oliveira.

Povoamento do Vale do Bestança: terço superior: povoamento de montanha mais aglomerado e espaçado entre os núcleos; terço médio e inferior: povoamento disperso apenas mais aglomerado junto das principais vias de comunicação e núcleos populacionais. A localização das casas dispersas não ultrapassa os 600 m de altitude, dominando a partir daí a floresta ou os terrenos onde a rocha aflora.

Exploração agrícola: disposição dos campos em socalco e lameiros declivosos no terço superior (solos de origem granítica – rocha-mãe: granito).

Economia do vale: Moinhos (em laboração ainda em Soutelo, Valverde, Pelisqueira, Pias, Cinco Rodas); Produtos agrícolas (milho, feijão, batata, vinho, castanha, mel).

Flora: Na área de maior altitude predomina a vegetação subarbustiva ou herbácea; Castanheiro (Castanea sativa Miller): em Soutelo e Daixa; Carvalho (Quercus sp), nas faldas de Alhões, Pelisqueira; Pinheiro bravo (Pinus pinaster Aiton), Mourelos e Valverde. No leito do rio desenvolve-se o amieiro (Alnus glutinosa), freixo () e salgueiro (Salix sp). Dispersos pelo vale, também podemos encontrar Crataegus monoginea, Prunus sp.

Fauna: Lontra, ginetes, gatos-bravos, raposa, javali, texugo, salamandra lusitânica, Melro-de-água; alvéola, gaio, ujo, coruja, milhafre. Espécies piscícolas: truta, iró, boga.

Geologia do leito do rio: Granito porfiróide de grão médio.

Património a visitar:
Património religioso: Igreja de Ferreiros de Tendais, com especial atenção para os altares barrocos e caixotões do tecto; Igreja de Santa Cristina de Tendais e Igreja matriz de Cinfães; Capela de São Pedro do Campo.
Muitas alminhas e cruzeiros dispersos ao longo dos caminhos. Destacamos o cruzeiro no adro fronteiro à capela de São Sebastião, em Mourelos, Tendais.
Zonas arqueológicas: Castro do Monte das Coroas em Ferreiros e Castêlo de Tendais em Tendais (povoados da Idade do Ferro); Quinta da Chieira (vestígios da ocupação romana) em Cidadelhe.

Aldeias com motivos de interesse: Alhões (relevam no centro da aldeia os solhais, as alminhas incrustadas nas paredes do casario e a igreja de Alhões em cujo adro os habitantes negociavam com os maiorais a renda a pagar pelos rebanhos da Serra da Estrela na época da transumância) Bustelo, onde se destaca a laje que funciona como eira comunitária e que deu o nome à aldeia; o casario é muito interessante também, assim como os caminhos medievos que levam ao Bestança e aos moinhos da Costa Limpa; Chã, onde existiu a célebre torre de Chã edificada por Geraldo Geraldes o Sem Pavor e donde se avista o cerro do Monte Faião; interessante os castanheiros seculares à saída para norte da aldeia, no caminho para o Bestança, que dois homens mal abarcam;
Boassas, classificada em 1938 como a segunda aldeia mais portuguesa de Portugal. Interessante o casario apinhado da Arribada e a capela oitocentista onde sobressai no seu interior dois altares laterais e os caixotões do tecto que retratam a paixão de Cristo.
A merecer vista também as aldeias de Pias (pelo seu casario em que relevam exemplares de arquitectura tradicional), Vila de Muros (de que destacamos a casticidade da aldeia e o bonito edifício da Escola Primária “ Andrade “). Outras aldeias com interesse: Vila Viçosa, Marcelim, Mourelos, Meridãos ( com interessante cruzeiro do centenário ) e Soutelo (do caminho que parte da aldeia para o Bestança alcança-se uma magnífica vista sobre o vale do Bestança e as leiras estratificadas da Granja que atestam com o rio).

Percurso Pedestre: Início e termo: Largo da Nogueira, aldeia de Vila de Muros. Seguir pela estrada de asfalto e virar à esquerda no caminho a seguir ao cemitério. Passar a ponte de Covelas sobre o Bestança e subir até à aldeia de Covelas. Na primeira cortada virar à direita seguindo em frente pelo caminho da Carreira Chã. Este caminho cruza dois ribeiros e desenvolve-se perto da margem direita do Bestança. Ao chegar às fragas da Arruínha virar à direita e descer pela tapada até uma ponte de cimento que atravessa o rio. Está agora no Prado. Siga pelo caminho lajeado até Valverde e depois pelo asfalto até Vila de Muros onde termina o percurso. Motivos de interesse: Ponte de Covelas, aldeia de Covelas, caminho da carreira Chã, pontes de madeira do Prado, moinhos, ribeiro de Barrondes, rio Bestança, fragas da Arruínha sítio de nidificação do milhafre.
Deve munir-se com desdobrável editado pela C.M.C. e pela ADVB.
O percurso está marcado e sinalizado.
* Infelizmente, uma parte do percurso ( zona da carreira Chã ) ardeu. As marcas foram apagadas pelo que voltarão a ser por nós repostas. Além da tristeza que sentimos fica-nos a indignação pelo património florestal destruído. Continuaremos porque o conformismo é o refúgio dos fracos.
Devido ao incêndio recomendamos que o percurso se faça depois da Primavera, altura em que a natureza, fruto de uma regeneração exemplar, volta a emprestar o verde às agora terras áridas e negras. O verde da esperança…

Principais sítios de veraneio:

Poço do Morangueiro ( Cinco Rodas ), Pias ( a montante e jusante da ponte de Pias ), Poçoa das Aveleiras ( Açoreira ) , Poço Negro e Poço das Mulheres ( Covelas ).

Fonte: Monografia de Cinfães, caderno de Geografia: Autora: Maria Isabel de Sousa Vasconcelos.
Bestança – Por caminhos e veredas. Autor: Jorge Ventura.
Retratos de Família. Autor: Nuno Mendes.
Montemuro – Última Rota da Transumância. Autor: Filomeno Silva.
Revista Terras de Serpa Pinto.

A floresta – um património esquecido.


Os incêndios passaram a ser desde há algum tempo o tema horrendo das aberturas dos telejornais. As câmaras filmaram aspectos dantescos das chamas a devorarem a floresta portuguesa, habitações, indústrias e a causar vítimas humanas.
Mais uma vez o povo português se sensibilizou, lamentou a perda de bens e de vidas humanas; gerou-se uma onda de solidariedade, as televisões iniciaram programas onde entrevistaram intervenientes nos incêndios procurando arrancar-lhes palavras de indignação, revolta, pesar.
Mais uma vez os políticos da oposição apareceram a mostrar a sua ainda contida indignação pelo acontecido, deixando para daqui a mais alguns dias um desancar verbal no Governo e no Ministro da Administração Interna.
Mais uma vez os governantes argumentaram com a excessiva vaga de calor que vai na Europa e louvaram o empenho de todos já que sem esse empenho poderia ter sido bem pior. E mais e mais…
O que é certo é que a floresta ardeu, que vidas humanas se perderam, que casas e empresas ruíram. E porquê?
Claro que há o facto de a floresta portuguesa ser desde há muitas décadas mal gerida, de se insistir na plantação de árvores resinosas em detrimento das folhosas, de se plantar eucaliptos a esmo e de se enfraquecer o sub-coberto, de se não fazerem aceiros dimensionados, da falta de meios dos bombeiros ( significativo foi o facto de termos de recorrer a aviões marroquinos para combater os fogos ), da falta de coordenação entre as diversas entidades – Ministério da Administração Interna, Protecção Civil, Parques Naturais - , claro que há tudo isto e muito mais que por certo irá ser debatido na Assembleia da República entre discursos inflamados e acusações partidárias.
Mas o que os portugueses pretendem é que desses debates resulte de facto uma posição que realce a floresta como PATRIMÓNIO AMBIENTAL do nosso tão bonito país.
O papa João Paulo II, numa sua homilia na praça de S. Pedro em Roma, lamentando a sorte da floresta portuguesa e das vítimas portuguesas, falou da floresta como património ambiental que é necessário proteger. Por esta visão das coisas se nota o espírito actual e actuante deste papa que nos tem surpreendido a todos positivamente com o modo sábio como tem orientado a Igreja e pelo modo ponderado mas interventivo como tem enfrentado os problemas actuais.
De facto, falta na nossa sociedade uma consciência ambiental e, no que concerne à floresta, a consciência de que é um património que temos de salvaguardar e valorizar.
Infelizmente, muita da sociedade portuguesa entende os incêndios como uma inevitalibidade e conformam-se com a situação. Não é raro ouvir-se dizer “ deixa arder a ver se o fogo limpa o mato dos caminhos, que nem por lá se pode passar”.
Enquanto a base social da sociedade portuguesa pensar assim não teremos por certo um país verdejante e apto a receber turistas amantes da natureza, com as enormes perdas financeiras que tal acarreta.
Antes de todo e qualquer debate, antes do assacar de culpas a uns e a outros, crie-se na consciência de cada um esta ideia: a floresta portuguesa é um PATRIMÓNIO que urge manter e preservar.